sábado, 30 de abril de 2011

Aspectos tematicos da obra:

Um dos propósitos de Alencar, ao conceber Iracema, foi, sem dúvida, mostrar como se deu a formação do Ceará, sua terra natal - a terra onde "canta a jandaia", como significa "Ceará" ao pé da letra, e explica o autor: "Ceará é nome composto de cemo - cantar forte, calmar, e ara - pequena arara ou periquito".
Como se viu pelo enredo, Moacir, fruto da união de Martim (branco) com Iracema (índio), é o "primeiro cearense". A conquista da terra pelo branco, ocorrida nos primórdios do século XVII, deu-se através de lutas sangrentas em que os portugueses contaram com a valiosa ajuda dos índios pitiguaras, que habitavam o litoral.
Ao retratar o mundo selvagem e primitivo dos índios, Alencar reveste a sua prosa de um tom poético e ingênuo, tentando, assim dar uma visão da realidade focalizada a partir da ótica do índio: as imagens, as comparações, a forma de exprimir mostram o índio integrado no seu “habitat” natural e como que sugerem o nascimento de um mundo novo; penetrando nas entranhas da terra virgem e selvagem, o branco conquistador iria fazer brotar uma nova raça.
Já foi observado que Iracema é anagrama da América, isto é, Iracema tem exatamente as mesmas letras de América, numa outra ordem. Assim, simbolicamente, a morte da índia, no final da estória, pode representar a aniquilação da cultura nativa pela invasora que conquista e domina a terra.
De sentido igualmente simbólico se reveste a oposição de Irapuã ao
hóspede branco (Martim), protegido por Araquém. Ao opor-se a ele, o guerreiro
tabajara não quer defender o amor que nutria pela virgem dos lábios de mel; sua resistência é, antes, em defesa da preservação da cultura indígena e do “segredo de Jurema”. Do qual Iracema era guardiã. Violada a sua virgindade pelo invasor branco, fatalmente as tribos seriam dizimadas e aniquiladas.
Assim, embora possa parecer o “vilão da estória”, opondo-se a Martim, o gesto de Irapuã reveste-se de nobreza e grandeza, pois outro lado, a conduta de Iracema (e também Poti), que se aliam ao conquistador branco, é passível de condenação. Como se viu, Iracema morre, desfigurada pela dor e pelo estrangulamento cultural; Poti, descaracterizado e tornado cristão, recebe o batismo de gente civilizada e passa a se chamar Antônio Felipe Camarão...

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